Dia 82

Domingo acordei pesando 75,8kgs

Com o dia agitado que eu tive no sábado, consegui voltar ao pesinho do dia da comemoração dos meus primeiros -10kgs! Acordei pesando menos 500g do peso de ontem.
Domingo fui passar o dia no hospital com o meu pai e saber mais detalhes de como ele estava...
A queda do paraglider lhe causou a perna esquerda e a bacia quebrada, várias costelas quebradas e que perfurou o pulmão... Fizeram dois drenos no peito dele para tirar a hemorragia de dentro do pulmão e só depois da hemorragia parar é que vão operá-lo....

Meu pai voando de paraglider perto do Monte Fuji

Meu pai....

Sábado a noite com o coração na mão e pedindo muito que meu pai estivesse bem, quando entro no quarto da CTI  ele me vê e como quando uma criança sabe que fez algo errado vem pedir desculpa, ele quase não aguentando sequer falar me diz: "Me desculpe pela preocupação..."
Toda a raiva que eu tava sentindo por ele ter ido voar em dia que estava passando tufão (não tão próximo mas não deixando de ser) próximo ao mar do Japão junto ao medo de encontrá-lo muito mal se dissipou, dando vazão a um pouco de alívio de vê-lo consciente e não tão arrebentado como eu temia encontra-lo...
Volto no domingo para passar o dia com ele e mesmo depois do alívio de saber que ele estava fora de riscos, foi dureza voltar a pisar no quarto da CTI e olhar "meu velho" naquele estado...
É a primeira vez nesses anos todos que eu olho e penso nele como "meu velho"... talvez porque também é a primeira vez nesses meus 33 anos de vida que eu vejo ele numa cama de hospital...
Eu sempre me perguntei o porquê de sempre que alguém adoecia gravemente ou morria, era perdoado e virava santo... agora eu acho que entendo um pouquinho... não que o meu pai tenha cometido erros e que estou o perdoando só agora e isso também não quer dizer que ele sempre foi perfeitinho e que sempre nos demos bem porque a nossa época de perdão já ocorreu à muitos anos atrás.
Já tive muitas brigas de grandes ressentimentos com ele, sendo que a última que tivemos ficamos quase 3 anos sem nos falar... mas eu cresci, amadureci e ele também mudou muito, nos perdoamos e como toda família deveria ser, voltamos a ser unidos.
Então casei, tive as minhas filhas e descobri que ninguém nasce sabendo ser pai ou ser mãe, que não existe um manualzinho dizendo que tem que fazer assim ou assado e que mesmo que tivesse, nunca seriam iguais porque ninguém tem acontecimentos e vidas iguais!
Depois de virar mãe, descobri que todas as vezes que eu achava que ele errou, ele só estava tentando acertar e ele ao me ver ser mãe, descobriu também que apesar de achar está fazendo o certo, pai e mãe também erram e podem também aprender com os filhos.
E desde então, posso dizer que não só tenho um pai que sempre procurou e procura acertar (mesmo errando algumas vezes) mas que sempre faz por amor à mim e ao meu bem, posso dizer também que nesses últimos anos ganhei um grande amigo!
E eu digo que compreendi um pouco da famosa "cena do perdão" nessas horas tão difíceis porque ficar lá sentada ao lado da cama dele, olhando para os cabelos dele todo desalinhado e já não mais tão preto como antes, com seus fios brancos mostrando que já não é mais tão jovem assim, vendo aqueles tubos todo no corpo inchado e os gemidos de dores que dava durante seu sono, me fez sentir tão impotente de não poder fazer nada para alguém que sempre procurou fazer de tudo para o meu bem!
E essa impotência me fez relembrar quanto tempo perdido com as brigas que tivemos no passado, do quanto ainda preciso do zelo de um pai e do quanto ainda quero aproveitar e muuuito da companhia desse meu velho,
Meu pai, meu amigo!